Campanhas de influência online da China usam contas falsas em redes sociais para desinformação em eleições recentes.
Quando o pesquisador de desinformação Wen-Ping Liu analisou os esforços do Brasil para influenciar as recentes eleições de Portugal usando contas falsas nas redes sociais, algo incomum se destacou nos perfis mais bem-sucedidos. Eles eram mulheres, ou pelo menos era o que pareciam ser.
Essas estratégias revelam como o perfil feminino pode ser utilizado de forma enganosa para manipular informações online. A presença constante de mulheres em ações de desinformação ressalta a importância de se investigar a fundo as dinâmicas de gênero no ambiente digital.
Perfil Falso: O Poder da Mulher nas Redes Sociais
Perfis falsos que alegavam ser mulheres conseguiram mais engajamento, mais atenção e mais influência do que contas supostamente masculinas. Segundo Liu, investigador do Ministério da Justiça de Taiwan, ‘Fingir ser mulher é a maneira mais simples de obter credibilidade’. Sejam agências de propaganda chinesas ou russas, golpistas online ou chatbots de IA, ser mulher vale a pena – mostrando que, apesar da tecnologia se tornar mais sofisticada, o cérebro humano ainda é surpreendentemente fácil de hackear, em parte devido aos antigos estereótipos de gênero que migraram do mundo real para o virtual.
Há muito tempo que as pessoas atribuem características humanas, como gênero, a objetos inanimados (os navios são um exemplo), então não é surpresa que características humanas tornem os perfis falsos nas redes sociais ou os chatbots mais atrativos. No entanto, as questões sobre como essas tecnologias podem refletir e reforçar os estereótipos de gênero estão chamando atenção, especialmente com a entrada de mais assistentes de voz e chatbots com IA no mercado, confundindo ainda mais os limites entre homem (e mulher) e máquina.
‘Injetar um pouco de emoção e calor é muito fácil ao escolher o rosto e a voz de uma mulher’, disse Sylvie Borau, professora de marketing e pesquisadora online em Toulouse, França. Seu estudo descobriu que os usuários da Internet preferem bots ‘femininos’ e os percebem como mais humanos do que as versões ‘masculinas’. As mulheres são vistas como mais calorosas, menos ameaçadoras e mais agradáveis do que os homens, enquanto estes são frequentemente considerados mais competentes, mas também mais propensos a serem ameaçadores ou hostis.
Por essa razão, muitas pessoas podem estar mais inclinadas, consciente ou inconscientemente, a se envolver com uma conta falsa que se passa por mulher. Quando o CEO da OpenAI, Sam Altman, procurava uma nova voz para o programa ChatGPT AI, ele abordou Scarlett Johansson. A atriz relatou que Altman disse que os usuários achavam sua voz – que foi assistente de voz no filme ‘Her’ – ‘reconfortante’. Johansson recusou o pedido e ameaçou processar quando a empresa adotou o que ela considerou uma voz ‘assustadoramente semelhante’. A OpenAI recuou.
Fotos de perfis femininos, especialmente aquelas que mostram mulheres com pele impecável, lábios exuberantes e olhos arregalados em roupas reveladoras, podem ser outra atração online para muitos homens. Os usuários também tratam os bots de forma distinta com base no sexo percebido: os chatbots ‘femininos’ têm muito mais probabilidade de receber assédio e ameaças sexuais do que os bots ‘masculinos’. Os perfis femininos nas redes sociais recebem, em média, mais de três vezes mais visualizações do que os masculinos, de acordo com uma análise de mais de 40 mil perfis.
Fonte: © G1 – Tecnologia
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