Lesões, infecções, estresse, desnutrição afetam função cerebral e comportamento ao longo da vida: fatores de risco significativos na neurobiologia e efeitos comportamentais.
Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento adequado e a maturação do cérebro. Crises convulsivas nesse período, sejam elas causadas por lesões, infecções, estresse ou desnutrição, podem impactar significativamente a função cerebral e o comportamento ao longo da vida.
Além disso, tais perturbações cerebrais podem estar associadas a uma variedade de distúrbios neurológicos, problemas psiquiátricos e distúrbios do neurodesenvolvimento. É essencial estar atento aos sinais precoces e buscar ajuda especializada para garantir o melhor acompanhamento e tratamento para indivíduos que enfrentam essas condições. A conscientização e a educação sobre essas questões são fundamentais para promover uma abordagem integrada e eficaz na saúde cerebral.
Impacto das Crises Convulsivas na Infância
Crises convulsivas são ocorrências neurológicas frequentes em idades jovens, representando fatores de risco significativos para distúrbios do neurodesenvolvimento, como autismo, TDAH e esquizofrenia. Um estudo recente realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) investigou a neurobiologia dos efeitos comportamentais decorrentes dessas crises, utilizando roedores como modelo animal.
Liderado pelo pesquisador Rafael Naime Ruggiero, o estudo revelou que as crises convulsivas na infância não estão diretamente ligadas à morte de neurônios, mas sim a disfunções moleculares e alterações nas redes neurais. O aumento persistente de inflamação cerebral associado a essas crises pode desencadear alterações comportamentais relevantes para condições como autismo e esquizofrenia.
Além disso, os pesquisadores observaram uma relação surpreendente entre a neuroplasticidade e a cognição. A capacidade do cérebro de se modificar após as crises convulsivas pode levar a prejuízos cognitivos, incluindo déficits de atenção e memória. A plasticidade neural exagerada nessas situações pode explicar o maior risco de desenvolvimento de epilepsia na idade adulta em indivíduos que sofreram crises na infância.
Uma descoberta intrigante foi a semelhança observada entre a atividade cerebral em estado de vigília e durante o sono REM em pessoas que tiveram crises convulsivas na infância. Essa associação pode explicar processamentos sensoriais atípicos, especialmente em casos de esquizofrenia, devido a um possível excesso de dopamina.
Na prática clínica, as epilepsias frequentemente estão associadas a comorbidades psiquiátricas, como autismo, deficiência intelectual, TDAH e esquizofrenia. Essas condições podem se manifestar ao longo da vida, evidenciando a complexidade das interações entre distúrbios neurológicos, problemas psiquiátricos e distúrbios do neurodesenvolvimento. A compreensão dessas interações é crucial para o desenvolvimento de estratégias de intervenção eficazes.
Fonte: @ Veja Abril
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